Policiais que mataram artista plástico de Candeias deram tiro pelas costas

Os três policiais admitiram, em depoimento, que não tinham certeza se o que Nadinho tinha na mão era uma arma de fogo.

O artista plástico Arnaldo Filho, o Nadinho, morto em Candeias durante uma ação policial em seu próprio ateliê, foi atingido pelas costas por um dos policiais militares envolvidos na ocorrência. “Três tiros foram disparados na direção da vítima, mas apenas um atingiu-o mortalmente. Os outros dois atingiram a porta e a parede da casa”, disse o delegado titular de Candeias, Marcos Laranjeiras.

A perfuração na altura do tórax era de uma arma ponto 40, calibre utilizado pelas forças policiais em todo o país e exclusiva deste grupamento. Segundo Laranjeiras, cada PM disparou um tiro. As informações estão nos laudos periciais recebidos pelo delegado e constam no inquérito policial, com previsão de ser concluído até a próxima sexta-feira (15). O delegado não esteve na reconstituição do crime realizada na noite de quinta-feira (7).

Os três policiais admitiram, em depoimento, que não tinham certeza se o que Nadinho tinha na mão era uma arma de fogo. “Eles disseram que viram a vítima com um objeto não identificado na mão. Disseram que não poderiam precisar que existia uma arma de fogo porque já era 21h e estava escuro”, disse o delegado.

O depoimento contradiz a versão oficial da PM à imprensa, em que constava que “o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax”.

No local do crime, foi encontrado ao lado do corpo um revólver calibre 38, com duas munições falhadas e quatro intactas. Não havia vestígios de pólvora na mão de Nadinho, já que os tiros não teriam sido disparados. Porém, segundo o delegado, apenas um dos PMs admitiu ter visto a arma ao lado do corpo. Os outros disseram ter visto o objeto depois que o homem havia sido socorrido. O revólver era clandestino, não tinha registro.

Em depoimento ao delegado, as testemunhas confirmaram que alertaram os policiais que na residência do bairro Santo Antônio não havia bandidos, mas sim um artista plástico. Nadinho não tinha antecedentes criminais.

Reconstituição
Na noite da última quinta-feira (7), o Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizou uma reconstituição do crime, a pedido da Polícia Militar. Participaram da simulação os policiais envolvidos na ocorrência e testemunhas. A família de Nadinho também acompanhou de perto a simulação. O laudo da reconstituição deve ficar pronto em até 30 dias.

“Foi um momento de ‘reviver o que não vivemos’, foi doloroso, mas foi necessário. Todos os envolvidos falaram a sua versão e a Polícia Técnica foi observando e registrando cada passo, cada movimento. Agora precisamos esperar para saber o que vai acontecer daqui pra frente”, disse Márcia Cristina Santos, filha do artista plástico.

Além de um inquérito criminal, os policiais militares também respondem a um inquérito militar, conduzido pela Corregedoria de Polícia Militar. Desde a noite da morte de Nadinho, o trio está afastado das atividades em rua.

Relembre o caso
O artista plástico Arnaldo Filho morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar dentro de seu ateliê, na noite do último sábado (21), em Candeias. Segundo os familiares da vítima, PMs entraram no imóvel e já chegaram atirando no homem, que estaria desarmado e desenhando.

Em nota, a PM afirmou, inicialmente, que a morte aconteceu no bairro Santo Antônio, por volta das 20h, após equipe de militares da Operação Força Tática de Candeias receberem um chamado através do Centro Integrado de Comunicação (Cicom), informando que um homem havia invadido uma residência no bairro.

A PM informou que duas equipes estiveram envolvidas nessa ocorrência, cada uma composta por três policiais militares. “Entretanto, apenas uma estava no momento da abordagem do imóvel, a outra equipe chegou em apoio momentos depois”, destacou a corporação.

“Ao chegarem no endereço informado, as equipes policiais bateram à porta do imóvel e identificaram-se como policiais militares, contudo o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax”, afirmou a PM, em nota.

A família negou que isso tenha ocorrido. “Eles entraram na casa e plantaram uma arma. Ainda disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de bem que não tinha nenhum envolvimento. Ele morava nessa casa desde pequeno”, complementa o sobrinho que, junto à outros familiares, pretende denunciar a ação policial

Correio

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